
Empregadores tentam retorno aos escritórios e funcionários resistem, com
reivindicações abertas ou com artifícios para manter ganhos percebidos pelos
trabalhadores
Os líderes de empresas intransigentes em relação ao modelo híbrido de
trabalho têm cada vez mais dificuldade de contratar e reter pessoas. Nos EUA,
metade dos funcionários acredita que a exigência do trabalho presencial só
serve para ocupar os prédios que ficaram ociosos. E 38% se recusam a trabalhar
de forma 100% presencial, enquanto 22% só aceitam mediante compensações em seus
salários. Entre os que retornaram ao escritório, em tempo integral ou parcial,
artifícios como “demissão silenciosa” ou “coffee badging” (marcar presença) já
fazem parte do novo vocabulário corporativo informal.
A pesquisa O estado do trabalho híbrido 2024 revela que esse modelo
continua a avançar. O percentual de funcionários no
híbrido passou de 26% a 27%, entre 2023 e 2024, quando os totalmente remotos
foram de 7% para 11%. O trabalho exclusivamente presencial caiu de 66% a 62%.
O estudo, em sua oitava edição, é promovido pelo Owl Labs, fornecedor de
soluções de conferência, com o instituto de pesquisas Vitreous World. Em julho
deste ano, foram entrevistados 2 mil funcionários de empresas nos EUA.
Escritório
só para ver e ser visto
Entre os funcionários no modelo híbrido, 41% passam três dias por semana
nos escritórios. No entanto, 44% desse grupo admite o
“coffee badging”, quando vão à empresa só para “marcar presença”, e deixam o
trabalho de verdade para ser feito em um ambiente que lhe seja mais
confortável.
Entre os adeptos ao “coffee badging”, 70% reconhecem que seus chefes
perceberam a manobra.
Outra tendência captada na pesquisa é a “demissão silenciosa”, em que o
funcionário “vai ficando”, até achar outro emprego, mais satisfatório.
Fast
food, despesas pessoais e polarização política afugentam
Entre os trabalhadores nos modelos híbrido ou remoto, 84% dizem ter uma
alimentação mais saudável em casa.
Em um ano eleitoral, a radicalização torna o proselitismo dos colegas
ainda mais desagradável. Segundo a pesquisa, 45% não querem ir ao escritório
para evitar discussões políticas.
Trabalhadores híbridos dizem que gastam em média US$ 61 por dia no
escritório, um aumento de 20% em relação aos US$ 51 em 2023. O custo para
trabalhar em casa também aumentou, mas apenas para US$ 19 por dia, em
comparação com US$ 15 por dia em 2023.
Novas
exigências, perspectivas de renda e precificação do trabalho
Por um misto de razões econômicas (dos custos de deslocamentos e
despesas fora de casa) e pessoais, 22% dos trabalhadores esperam um aumento se
não tiverem a opção de trabalho híbrido ou remoto, e 40% procurariam um novo
emprego que oferecesse mais flexibilidade.
Em contrapartida, 19% dos trabalhadores renunciariam a 10% de sua renda
atual em troca de semana de 4 dias, horário de trabalho flexível ou um melhor
plano de saúde.
A pesquisa revela que 35% valorizam o horário flexível e 38% a
mobilidade do teletrabalho. Outro novo jargão identificado é pejorativamente
chamado de workcations. Embora tenha sido descoberto que 58% dos funcionários
remotos não restringem o trabalho ao home office e espaços de co-working, o
estudo não entra em detalhes sobre motivos familiares, nômades digitais nem do
perfil dos lares.
Polyworking é mais uma consequência da digitalização do trabalho no novo
léxico corporativo. Entre os trabalhadores conectados virtualmente, 22% têm
outro emprego; 6% mais de dois empregos; e 14% planeja iniciar novas atividades
simultâneas no próximo ano.
Apesar de todas as transformações, se mantém, ou mesmo se acentua, a
valorização de características que valem para qualquer modelo – trabalho
presencial, híbrido ou remoto. Entre os motivadores mais relevantes, predomina
a remuneração, para 94%. A percepção de qualidade do suporte dos gerentes
aparece como segundo critério mais citado, por 92%. Evidentemente, no contexto
dos EUA, 91% também dão grande peso ao plano de saúde.
“Flexibilidade é fundamental, gerentes prestativos são essenciais e os
funcionários – talvez agora mais do que nunca – estão buscando um verdadeiro
equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, resumem os autores do relatório.
A taxa de desemprego nos EUA fechou em 4,1% em setembro, quando teriam
sido acrescentados 245 mil postos de trabalho.